domingo, novembro 25, 2007

Ainda sobre os "Heróis" de Lula ver blog do Prof. Roberto Moraes:

http://robertomoraes.blogspot.com/2007/11/quando-pessoa-no-liga-para-o-humano.html#comments

terça-feira, novembro 20, 2007

A economia fluminense tem crescido, há mais de uma década, mais rapidamente que a do resto do país.

Isto, contudo, não se tem traduzido numa melhora significativa da qualidade de vida de grande parte da população. Este processo, de fato, se dá essencialmente em função do extraordinário dinamismo do setor extrativo mineral (petróleo). Um setor intensivo em capital, que concentra o grosso de suas atividades no Norte do Estado, gera poucas recaídas para a Região Metropolitana, onde moram três de cada quatro moradores do Estado do Rio de Janeiro. Isto tem feito com que este crescimento acima da média nacional não reflita numa melhora dos indicadores do mercado de trabalho, muito menos dos indicadores sociais: a proporção de pobres no Estado, de fato, reduz-se mais vagarosamente que no resto do país.

Por outro lado, há de se considerar que o petróleo é um recurso finito, cuja perspectiva de demanda no médio prazo tem sido colocada em cheque pela crescente consciência, por parte da opinião pública mundial, de que sua utilização extensiva contribui para o aquecimento global. Além disso, é preciso preparar o Rio de Janeiro para o período de declínio da produção. A situação do estado pós-petróleo dependerá de ações tomadas no presente. A correta combinação do uso dos recursos gerados pela indústria de petróleo e gás com políticas públicas voltadas à melhoria do ambiente de negócios para micro e pequenos empreendedores, ao incentivo à produção de serviços especializados, demandados pelo setor de energia, ao incentivo à inovação e a diversificação da economia local são exemplos.

Torna-se necessário, portanto, elaborar uma estratégia de desenvolvimento mais ampla, inclusiva e sustentável.

Este projeto tem o objetivo de mobilizar as forças vivas da sociedade fluminense (diferentes níveis de governo, empresariado, academia e sociedade civil) numa série de debates em torno deste tema, bem como o de sistematizar e divulgar, em ampla escala, seus resultados, de modo a alimentar políticas públicas, em particular (mas não somente) do Governo do Estado, voltadas à melhora mais acelerada e acentuada das condições de vida da população do Rio de Janeiro.

Vejam mais detalhes em:
http://www.rioalemdopetroleo.com.br/

Altamente elogiável a iniciativa!
Entre heróis, moluscos e nossas desgraças cotidianas na planície
herói[Do gr. héros, héroos, pelo lat. *heroe.]Substantivo masculino 1.Homem extraordinário por seus feitos guerreiros, seu valor ou sua magnanimidade. 2.P. ext. Pessoa que por qualquer motivo é centro de atenções. 3.Protagonista de uma obra literária. 4.Mit. Semideus (2). [Fem.: heroína.](Dicionário Aurélio)
É poderosa a imagem pré-moderna que o “herói” ocupa no imaginário ocidental. Desde Nietzsche, com seu super-homem (übbermensch), até as revistas em quadrinhos, passando pelas auto-compreensões socialistas e nacionalistas, entre direita e esquerda, vemos esta figura síntese histórica, capaz de feitos extraordinários, povoar nossa imaginação. O herói, como aponta a definição do Dicionário Aurélio, é o exato oposto do homem comum, do cidadão burguês típico, partícipe de normas sociais, coagido por essas, depósito de neuroses e mediocremente finito. O herói vem nos absolver e romper os grilhões da vida cotidiana prostradora.

Não é meu objetivo aqui tecer um estudo sociológico, histórico, psicológico ou ainda etimológico do termo “herói” entre nós. Todavia estas ponderações são necessárias após ter escutado, na sanha lulista de buscar uma saída para nossas misérias, que os usineiros seriam nossos “heróis nacionais”. Senti-me triplamente ofendido. Primeiro como militante de esquerda. Segundo como morador de Campos dos Goytacazes, esta realidade tão longe de Deus e tão perto de Garotinho. Terceiro como cidadão.

Como militante de esquerda, da qual Luis Inácio Lula da Silva é ainda um dos ícones nacionais mais relevantes das últimas décadas, aprendi a ter profunda desconfiança desta instituição tão abrasileirada que é o latifúndio. Em relações trabalhistas degradantes, patrocinadas pelos heróis de Lula, vemos gerações repetidamente condenadas a reproduzirem sua condição de miserabilidade. Meninos e meninas, submetidos ao sadismo da Casa Grande e Senzala, tão fartamente descrita por Gilberto Freyre, mutilados continuamente em um sentido ontológico e cognitivo. Não foram jamais convidados para participar de nosso banquete iluminista. Vivem, no século XXI, sob condições de trabalho que já eram suficientemente aviltantes no século XVI.

Como morador de Campos dos Goytacazes, ocupa minha memória infantil aquela famosa “chuva preta” de fuligem. Neste mesmo fragmento de memória está a imagem de minha mãe obstinadamente tentando travar uma luta que já era em si perdida. Arregimentar todo aquele pó preto, que evidentemente deve ter causado problemas inúmeros para a saúde local, era uma tarefa impossível e insalubre. Pensei, como pode chamar os responsáveis por esta prática hedionda e anti-civilizatória de heróis meu caro Lula? Cena esta que sei não é restrita a nossa cidade, possivelmente sendo repetida incansavelmente no nordeste brasileiro onde, assim como aqui, a população silenciosamente aturou estas toneladas de poluição sobre suas cabeças. Estes senhores merecem ser chamados de heróis realmente?

Por fim, como cidadão me preocupo enormemente. Pago meus impostos. Reconheço, diferentemente da classe média (ah, a classe mérdia!) nacional as profundas disparidades sociais. Meu papel, como cidadão, é justamente o de exigir que estes impostos sejam empenhados em políticas sociais eficazes. Surtam efeito em políticas educacionais que enfrentem a o moinho da reprodução de desigualdades. Que gerem pesquisas e enfrentem os gargalos infra-estruturais do desenvolvimento nacional dado que as chamadas “forças de mercado”, embora arrotem um discurso liberalizante, são as primeiras e piranharem o Estado exigindo subsídios, obras, empréstimos, recursos. Nossa burguesia, a qual não pode ser resumida a um Visconde de Mauá, é uma classe odiosa, preguiçosa... Mas, isto é assunto para outro momento.

Todavia ao ver os usineiros, aqueles que receberam esta alcunha de heróis, e o fracasso parasitário do pró-alcool, eu como cidadão estremeço. Estes senhores mais uma vez, por sua bancada ruralista que já é em si um grupo de pressão suficientemente poderoso e anacrônico, irão colocar suas mãos sujas sobre o meu, o seu, o nosso dinheirinho. Quando se vê o homem que comanda o executivo nacional chamá-los de heróis, isto significa, em termos práticos, que estes senhores terão, mais uma vez, um privilegiado canal de negociação com o Estado. Terão empréstimos. Terão subsídios. Terão, ainda, o reforço de sua estrutura latifundiária sanguessuga para os próximos tempos.

Este libelo contra os usineiros é conjunturalmente localizado. Os “heróis” obtiveram uma importante vitória na Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ) obtendo a permissão para continuarem ateando fogo nos canaviais na contra-mão do atual discurso ambientalista que contamina inclusive o establishment sendo, evidentemente, profundamente re-significado.

Pelo visto minha mãe continuará obstinadamente esfregando o chão de nosso quintal porque os heróis de nosso presidente assim prosseguem. Prosseguirão com todas as suas práticas anti-civilizatórias e gozando de legitimidade.

Como finalizaria Millor Fernandes : "Assim passam os dias".
George Gomes Coutinho
Mestre em Políticas Sociais - UENF