domingo, dezembro 09, 2007

Pensando a violência...

Depois de muita insistência por parte de alguns amigos que tomaram o filme “Tropa de Elite” como a realidade tal qual é, obrigo-me a escrever estas linhas sobre a recorrência do autoritarismo no discurso oficial e nas falas de alguns "especialistas" em violência.

A primeira vez que lembro a associação entre violência armada e tráfico de drogas foi sob o rótulo "narco-terrorismo" quando da intensificação dos conflitos deflagrados entre as FARC, governo colombiano e grupos paramilitares nele instalados, lá pelos idos de 1998, associação essa sugerida provavelmente de alguns ideólogos do Pentágono.Não quero fazer deste exemplo uma evocação ingênua de reclames anti-americanos mas creio que o debate sobre a violência e as drogas deve ser sustentado numa escala de análise geopolítica. As formas de controle social que viabilizem relações legítimas de produção, distribuição e consumo de drogas são afetadas pelos mesmos mecanismos que as difundem globalmente: instrumentos de comunicação virtual, lobbies, armas e dinheiro. E por debaixo de todo este império vige um império ainda maior: o "império dos sentidos", a difícil e intricada relação entre prazer e repressão.

Todos queremos nos civilizar mas quase sempre não desejando de pronto o "mal-estar da civilização". O mais problemático disso tudo, ao meu ver, é a formação de um consenso alimentado por ignorância que toma a sociedade de forma dual – bandidos e não-bandidos –, obscurecendo a trama que parece fundir medo e silenciamento público, estendo a eliminação do "bandido" ao uso indiscriminado da força nos ambientes nos quais estes supostamente se (de)formam: as comunidades de baixa renda situadas no interior e nos grandes centros urbanos, integradas marginalmente ao mercado de trabalho e à sociedade de consumo que suscita expectativas imediatas de fruição de bens contrastantes com o preenchimento das condições básicas de existência: moradia salubre, alimentação regular, transporte e lazer dentre outras.

Não tenho opinião formada sobre a legalização das drogas. Sei que algumas drogas, para além do álcool, já sofrem um aceite alvissareiro por amplas camadas da população e de seu “público educado”. O prazer é uma dimensão de hoje e sempre na vida humana, mas também é um fenômeno histórico que implica, necessariamente, o reconhecimento de sua organização social em condições opressivas: mais-prazer para alguns e mais-repressão para a maioria. Dizer tudo isso talvez não seja tão óbvio se considerado o recurso aos alucinógenos como auto-alienação de uma vida não vivida para si.


Lendo e debatendo "Eros e Civilização" (Herbert Marcuse, 1964) aprendi que liberalidade dos costumes não é o mesmo que liberdade política. A sublimação dos instintos (ou pulsões) reside conteúdos potencialmente criativos - a fantasia, única faculdade humana não redutível ao tabu da consciência.Do ponto de vista de nossa formação, talvez possamos dar prosseguimento ao debate ao tomar a fantasia como um atributo da "imaginação sociológica" ou da atividade estética dos inúmeros intérpretes e reinventores do cotidiano que, apesar de viverem a apartação de suas individualidades, esboçam atos, palavras e imagens de resistência ainda carentes de elaboração política coletiva.

Paulo Sérgio Ribeiro da Silva Jr. Sociólogo / Mestrando em Políticas Sociais (UENF)

PS: Texto repostado a pedido do autor.

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